domingo, 5 de junho de 2011

Lua

Quem me dera eu fosse uma estrela
E poder brilhar no céu escuro.
Deitar no manto do seu olhar
E iluminar seus sonhos de amor.
Ser como poeira lunar,
Reluzindo a paixão de prata
Em cada verso azul
No céu dos poemas sem luz.
Queria beijar seu rosto
Como a fina madrugada
Que entra pela fresta da janela
E te acordar de manso
Passo a passo, como a brisa
A soprar nos seus cabelos
E a roçar sua pele.
Quem dera eu pudesse
Olhar nos seus olhos
E lhe inspirar pensamentos
Que irão acordar os meus
A se moverem sem razão aparente.
E por mais que eu tente descrever sua beleza
Ou tente entender o que se passa comigo,
Perco-me entre as palavras,
Vôo até as nuvens etéreas
Que me envolvem e me tornam puro
Para mostrar que, para você
Eu nunca terei um lado obscuro.

Fotografia

Quero uma foto assim,
Que mostre todas as imperfeições do rosto
Como um poema, que traz consigo todo pleonasmo.
Um auto-retrato íntimo, sem-vergonha,
Um quadro vazio, cheio de sons.
Quero um sorriso franco,
Brilhando sob o sol, olhar caramelo,
Pele porcelana, abraço de suor.
Quero cabelo em crinas, brilhando
Se longos, presos ao pescoço,
Pelo corpo dele.
Se curtos, presos pelo vento,
Roçando de leve a tez dela.
Quero mãos vazias, entrelaçadas,
Quero um coração de toda sorte,
Fumegante de calor,
Pulsando o sangue de tinta, moldura
Congelado na parede, iluminando o corredor.

Sinhá

sinhá disse que não quer panela de barro
quer cheiro de alecrim nos pano da cama
qué flô fresca na janela
mandô os nego andá de camisa e cravo
cobriu os pé e os cabelo das mucama
meteu o dedo no bolo, mandô botá mais canela...
Proibiu inté os tambô pras nega dançá
Mas me pidiu pra jogá os búzio que iscondo na saia.
Joguei, vi um ômi bunito, cheio de rosa nas mão
Vi vestido branco, rabo atrás, chuvendo arroz
Vi anel, buxo cheio, cama de casá...
Vi um monte de bacurizim rodando pela casa,
mexendo nas minhas panela,
sujando as ropa que botei pra quará...
Vi um monte de fio branco de sinhá,
de ôio azul que nem o pai
mas que nas noite de chuva, quando os raio alumia o quarto,
corre tudo pros mamá da nega-véia , chorando
os mesmo peito que vai dá leite pros fio branco de sinhá...
os mesmo fio do amor da preta...os fio branco de sinhá

Sal

Face marcada
Mãos de calo, nodosas
Pés descalços, cansados.
Minhas pernas de mar
Bambeiam, trocam passos
Pé ante choro, lágrima ante pé
E me largo, mergulho,
Voo cego, guiado pelo cheiro
De vento, de alma, de amor próprio.
Tranço maresias na pedra
E costuro no peito, marco na pele
Entre pelos e respiração,
Meus erros, minha intuição
(Nobreza de ideias, tropeços de susto).

Rumo no norte da vida,
Bruma na proa
Solidão na tempestade muda
Veias d'água, olho de escama.
Parto em choro curtido,
Beijo a mão de areia
E vou arrastado por rum e boemia,
Tentando me esquecer só
E rezando baixo pra Iemanjá não me ouvir...